O início

— Olá! – A jovem aspirante a escritora saúda os leitores, acenando brevemente com as mãos.

— Eu sou Scarlet Stain, e este é meu novo blog. – Confusa sobre como iniciar a postagem inaugural de seu mais novo blog, acaba por, praticamente, repetir a introdução de seu primeiro vídeo para um canal de YouTube que nunca foi ao ar.

Scarlet é criadora de inúmeros projetos… inacabados. Mestra em procrastinação, demasiadamente perfeccionista e possuidora de uma mente criativa bloqueada. Acreditou que dessa vez seria diferente; porém, passados mais de dez dias desde a criação do blog, a única postagem disponível ainda era a automaticamente gerada pelo site.

— Ow! To aqui me esforçando pra fazer a postagem. Te chamei pra me ajudar, não pra ficar me criticando! – Claramente irritada, Scarlet desvia o foco dirigindo sua fala ao narrador. Tal atitude contribui, apenas, para mais perda de tempo.

— Para com isso, ou eu te chuto daqui! Não preciso de narrador. Isso aqui é um blog. Esse texto é meu. Posso conversar com meus leitores. Posso usar primeira pessoa, linguagem informal, o caramba! Posso até bugar a pontuação! Mas, isso me agoniaria demais, então, não…

Tamanha sua ingenuidade, Scarlet é incapaz de perceber que a maioria dos leitores simpatizaria mais com um narrador crítico que com uma personagem cujas primeiras falas caracterizam um ataque de pelancas.

 
SAI DO MEU TEXTO!

——————————————————————————————————–

A autora continuava determinada a publicar sua postagem inaugural. Contudo, o clima em The Scarlet Stain manteve-se pesado até a chegada de outro narrador; figura que ela decidiu conservar, por receio de parecer pessoal demais.

Scarlet costumava se incomodar bastante com o tipo de escrita utilizado pela maior parte dos blogueiros que encontrava em suas navegações pela internet. A escrita extremamente informal e pessoal. A mera transcrição da fala, sem lapidação. Isso ocorria devido a seu passado escolar, no qual os estudos de gramática normativa, inusitadamente, a atraíram e acabaram marcando certo tradicionalismo em seu pensamento em relação à língua. Apesar disso, durante o curso de Letras, a concepção que tinha sofreu transformações, tornando-a mais tolerante.

— Assim eu pareço uma chata… – Comenta, em tom entristecido.

— Como vou estabelecer conexão com os leitores se não gostarem de mim? – Questiona, demonstrando sua excessiva preocupação com a recepção do blog.

— Excessiva… – Pensa alto. — Nah, tá bom, então. Acho que pelo menos minha família vai gostar, né?

Apesar de ainda não estar totalmente segura, a jovem estava disposta a arriscar e começar a publicar suas produções criativas. Já havia divulgado alguns textos no Facebook e obtido resposta positiva, o que a motivou. Porém, a criação do espaço virtual específico para suas publicações estava sendo bem mais difícil do que ela imaginava.

— Acho que eu devia mudar essa imagem, de novo. – Diz, observando o banner.

Nos primeiros dias, Scarlet passeava pelas páginas do blog em construção, analisando. Como se fosse mobiliar uma casa, tentava imaginar como seus escritos seriam dispostos no espaço. Mantinha-se na observação, somente, pois considerava tarefa árdua preencher as páginas com palavras de relevância. Tinha dificuldade em escrever.

— Parece que meu pensamento funciona em outra dimensão. Irônico, né? Eu querer ser blogueira-escritora, whatever, sendo toda travada pra escrever. – Relata.

Apesar disso, já estava cansada de ser impedida por si mesma e decidiu que, mesmo que fosse difícil e demorasse, este blog entraria para sua humilde lista de projetos executados.

— Ufa! Acho que assim está bom. – diz, passando seu braço pela testa, para retirar o suor, e dando uma última olhada no texto. Em seu rosto, um sorriso aliviado.

E assim encerra-se a primeira – de muitas – postagens de The Scarlet Stain, a pequena manchinha escarlate, que pretende crescer e espalhar sua cor até onde puder alcançar.