Mar chama

Mar chama.

Engraçado que a chama é feminina enquanto o fogo é masculino e o mar é masculino enquanto a água e as ondas são femininas…

Eu sinto “o” feminino.

Língua contraditória!
Mas, aqui, quero falar de mar.

O mar, que, apesar do artigo, sinto ser uma energia feminina, me chama.
Não sei se é assim com todo mundo, mas muita história se fez com pessoas que sentiram o mesmo, né?
O canto da sereia que seduz o navegador e afunda a embarcação… etc.
Será que é Iemanjá?
Não entendo muito, mas li por aí que suas filhas devem fazer uma oferenda a ela, ou ela as impede de casar. Eu não sei de qual orixá sou filha, mas o mar parece me pedir alguma coisa.
Também nem quero casar! Já abri guarda-chuva dentro de casa e tive os pés varridos. Meu destino é “ficar pra titia” e tá de boas.
Mas o mar…

Quando criança, fui muito à praia, me diverti bastante na areia e na água. Tanto que cansei.
Ou, não sei… podem ter sido as inseguranças em relação ao meu próprio corpo que diminuíram meu prazer de ir à praia.
Sei que sempre teve aquela atração dentro da água. Aquela vontade de descobrir o quão fundo eu conseguia ir mantendo o controle. Eu pequena nem entendia, mas era isso.

Cheguei a me afogar! Nem lembro como foi, só lembro da minha avó extremamente preocupada me reanimando.
Também teve um episódio em que rolei dentro da onda e fiquei muito tempo debaixo da água sem conseguir emergir, sem ar. Pensei: morri! Mas deu pra voltar à superfície e respirar.

Lembro pouquíssimo dessas coisas. Na verdade, nem lembrava até começar a escrever isso aqui.
E só comecei a escrever porque queria relatar experiências recentes.

Bom, esses dias reencontrei o mar depois de uns 5 anos. Vim sem muito ânimo “praiero”, mais pra ficar com a família e admirar a paisagem.
Minha condição física não tá das melhores, então tomar aquele banhão de mar, deixar as ondas baterem nas costas, pular, mergulhar, nadar… Nem passa na minha cabeça. E agora que passou, já ativou as dores.
Mas é claro que eu não podia deixar de tirar fotos da paisagem maravilhosa!
Então eu fui até a água algumas vezes, com o celular na mão, deixando só meus pés serem molhados, cumprimentando e pedindo licença à majestade.

E assim, senti ela me chamando…

Sabe aquela sensação de pisar na areia molhada pelo restinho das ondas anteriores, ir mais um pouco, deixar cobrir os pés, e aí vem uma nova onda, que bate nas canelas e, quando volta, parece que te puxa junto?
Tem a força física da água, claro, mas também é mais que isso. Por um breve momento, a sensação de atração é tão forte que, mesmo com os pés já enterrados na areia, os olhos mirando a próxima onda são fisgados, a cabeça vai junto pra frente, levando o resto do corpo e dando a ilusão de que estamos sendo totalmente puxados. Nesse breve momento o mar tem o completo domínio sobre nós. Só que é fácil despertar desse transe se ainda estamos ali na beirinha.

Tive essa experiência em uns dois dias que fui tirar foto do mar sozinha. Como se fosse uma questão nossa – minha e do mar. Ou como se sua hipnose funcionasse apenas de um por vez…
Dá uma mistura de encantamento, admiração, com medo.
A energia sedutora…

Um magnetismo, uma força além do fisico que quer nos juntar. Nos reconectar.
Tem um pouco de mim nela (na água) e um pouco dela em mim. Parece que o destino é essas partes se combinarem… de novo?
Nós humanos viemos da água, então talvez seja até genético sentir vontade de voltar pra ela!

E estando ali, sentindo isso e refletindo sobre, o mar me pareceu uma Mãe, uma Deusa, a própria Vida.
E como o mar, a vida é linda, majestosa, misteriosa, atraente, perigosa, inconstante… e está sempre flertando com a Morte.

Eu não sei por qual das duas, mas, nessas experiências, o mar pediu que eu me entregasse.

Eu só fiquei ali.
Sentindo, refletindo.
Tirando minhas fotos.